sábado, 9 de outubro de 2010

Dissidência chinesa teme onda de prisões pós-Nobel da Paz a ativista



Os dissidentes do governo chinês celebraram neste sábado (9) a atribuição do Nobel da Paz de 2010 ao ativista preso Liu Xiaobo, mas temia uma nova onda de repressão, depois da relatada prisão de militante ocorrida logo depois do anúncio do prêmio.
Na sexta-feira à noite, a polícia deteve dezenas de partidários de Xiaobo que comemoravam o prêmio, disseram neste sábado o advogado Teng Biao e uma organização de defesa dos direitos humanos.
A Organização Defensores dos Direitos Humanos na China, com sede em Hong Kong, também falou em prisões.
Liu Xia, mulher de Xiabobo, chegou neste sábado à província de Liaoning, no noroeste do país, onde ele está preso, e espera poder vê-lo no domingo, segundo o Centro de Informação dos Direitos Humanos e da Democracia, também de Hong Kong.



Já o jornal oficial "Global Times" reafirmou a posição do governo, de que o comitê do Nobel se "desonrou" e que o prêmio virou "um instrumento político a serviço de motivações antichinesas".
Em editorial, o jornal aludiu à premiação do Dalai Lama, líder espiritual do Tibete, ocorrida em 1989.
Nos principais portais de internet chineses, uma busca pelas palavras "prêmio Nobel da Paz" ou "liu Xiaobo" não dava resultados. Vários internautas, acostumados à censura, citavam Xiaobo de maneira indireta.
A TV oficial chinesa não falou sobre o assunto, e reportagens de cadeias estrangeiras como a CNN e a TV5 foram censuradas.
Professor e defensor da democracia na China, Xiaobo vai receber um prêmio de U$ 1,5 milhão (cerca de R$ 2,7 milhões).

Pressão



Líderes mundiais e organizações pró-direitos humanos reforçaram nesta sexta-feira (8) os pedidos para que o governo da China liberte Xiaobo.

O presidente dos EUA, Barack Obama, que recebeu o prêmio em 2009, pediu à China que liberte Xiaobo. O Dalai Lama também.

A secretária americana de Estado, Hillary Clinton, exigiu a libertação de Xiaobo.
"Exortamos a China a cumprir com suas obrigações internacionais sobre os direitos humanos e a respeitar as liberdades fundamentais e direitos humanos de todos os cidadãos chineses. Reafirmamos nosso apelo para a liberação imediata de Liu Xiaobo".
Segundo Clinton, "enquanto a China obteve um tremendo progresso econômico nas últimas três décadas, a reforma política ficou para trás".
O Ministério de Assuntos Exteriores do Reino Unido disse que a concessão do prêmio chama a atenção para a situação que vivem os defensores dos Direitos Humanos de todo o mundo.
O Reino Unido afirmou que "continua pedindo sua liberdade e fazendo campanha em favor da liberdade de expressão em todos os países".
A chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, felicitou Xiaobo e disse esperar que ele possa receber o prêmio pessoalmente.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que a concessão "é um reconhecimento do consenso internacional cresciente pela melhoria dos respeito aos direitos humanos".
Mais cedo, a alta comissária dos Direitos Humanos das Nações Unidas, Navi Pillay, também saudou o reconhecimento de um defensor dos direitos humanos com a premiação de Liu Xiaobo.
Em uma possível represália à premiação, o governo da China convocou  o embaixador da Noruega, país-sede do Comitê do Nobel, para dar explicações.

Ativista

Xiaobo é o mais famoso dissidente político chinês. Ele foi considerado um problema pelo governo do país desde 1989, quando se juntou aos protestos estudantis na Praça da Paz Celestial.
O ativista tem sido um dos críticos mais combativos do Estado de partido único da China, e seus comentários públicos têm frequentemente irritado o governo, que insiste que a China é um país com o Estado de direito e que respeita os direitos humanos fundamentais -o que é refutado por entidades ocidentais.
Ele tem 54 anos e foi condenado a 11 anos de cadeia no Natal de 2009 por fazer campanha a favor das liberdades políticas. Sua condenação foi rejeitada internacionalmente por grupos de direitos humanos, pela Casa Branca e por muitos governos europeus.

Ao anunciar o prêmio, o presidente do Comitê Nobel, Thorbjoern Jagland, afirmou que a China, segunda maior economia mundial, deveria assumir "mais responsabilidades" devido a seu cada vez mais importante papel no cenário internacional.
O Prêmio Nobel da Paz é tradicionalmente entregue em Oslo no dia 10 de dezembro.

'Obscenidade'

O governo da China condenou fortemente a concessão do Prêmio Nobel da Paz para o dissidente Liu Xiaobo, que está preso, qualificando-a de "uma obscenidade" que vai contra os objetivos da premiação.
A decisão vai prejudicar as relações sino-norueguesas, diz um comunicado do porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Ma Zhaoxu, colocado em seu website.
"Esta é uma obscenidade contra o prêmio da paz", disse Ma.




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